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Enquanto o país se mobiliza — com razão — para proteger meninas da violência sexual, uma parte essencial da infância brasileira segue esquecida: os meninos. Invisíveis nas campanhas, ausentes nas políticas públicas e silenciados pela vergonha, eles também estão sendo abusados. E o número só cresce.
Segundo um levantamento feito com base em dados do Ministério da Saúde e da Universidade Federal do Piauí, os casos de abuso sexual contra meninos cresceram, em média, 6,8% ao ano entre 2013 e 2022. As faixas etárias mais atingidas escancaram a gravidade da situação: bebês com menos de um ano e adolescentes entre 15 e 19 anos.
A Pesquisa Nacional de Saúde de 2022 (IBGE) revelou outro dado estarrecedor: 1,8 milhão de homens e meninos já sofreram algum tipo de violência sexual ao longo da vida. E apenas 9% desses casos foram denunciados.
A conta é simples — e dolorosa. A maioria dos meninos abusados nunca contou a ninguém. Seja por medo, vergonha ou por simplesmente não encontrarem espaço para falar, eles se calam. E, com isso, seguem abandonados por uma sociedade que só escuta quando a vítima se encaixa no perfil esperado.
De 2021 a 2023, segundo o UNICEF e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de 164 mil casos de estupro de crianças e adolescentes de até 19 anos foram registrados no Brasil. Embora os dados reúnam vítimas de ambos os sexos, a proporção crescente de meninos escancara uma crise que ninguém quer encarar.
Por que não falamos sobre isso?
A pergunta incomoda — e precisa incomodar. Enquanto meninas recebem atenção (justa e necessária), os meninos são deixados de lado. Quase não há campanhas voltadas a eles. Quase não há escuta, acolhimento ou serviços pensados para suas dores. A omissão institucional é tamanha que muitos crescem acreditando que foram os únicos — ou que aquilo que sofreram nem foi tão grave assim.
Eles não se calam porque sofrem menos. Se calam porque não têm para onde ir.
Chega de silêncio
O Brasil não pode continuar tratando o sofrimento dos meninos como secundário. A violência sexual contra crianças é uma tragédia nacional — e toda criança importa.
Reconhecer os dados, investir em prevenção, criar políticas públicas específicas e romper o silêncio são passos urgentes. Proteger crianças não pode ser um ato seletivo.
Ou protegemos todas — ou continuaremos falhando com metade delas.