- Mais uma lei que diz: seu filho não importa - junho 16, 2025
- A qualidade da sua maternidade começa na escolha do pai - junho 15, 2025
- Filhos da Tábua: quando o baile vira berço e a miséria vira herança - junho 14, 2025
Grupos privados oferecem pílulas abortivas, orientações por WhatsApp e até “acompanhamento técnico” para aborto ilegal — e nenhuma autoridade faz nada.
Como entrei no grupo — e o que havia lá dentro
Enviei um pedido de entrada para um grupo no Facebook com meu próprio perfil. Fui aceita em menos de uma hora, sem triagem, sem filtro, sem sequer uma verificação de identidade.
Lá dentro, o que encontrei foi um mercado clandestino escancarado:
- Venda de pílulas abortivas;
- Instruções detalhadas sobre como usar;
- Acompanhamento via WhatsApp;
- Relatos de mulheres que já haviam “finalizado” o procedimento.
Prints com mensagens apelativas, emojis de coração e agradecimentos. Era como se estivessem falando de uma compra de maquiagem — não de um procedimento ilegal e perigoso.
O que dizem que oferecem — e o que estão de fato vendendo
As administradoras das páginas prometem “medicação original”, “discrição”, entrega nacional e “apoio humanizado”. Algumas se identificam como técnicas de enfermagem. Outras dizem já ter “ajudado milhares de mulheres”.
Mas o que estão vendendo, na prática, é medicamento abortivo ilegalmente, cuja a venda é proibida ao público no Brasil desde 1998. O uso médico é restrito a ambientes hospitalares, sob supervisão.
Elas enviam por correio, com instruções não médicas, para mulheres que muitas vezes estão sozinhas e vulneráveis. Os riscos incluem:
- Hemorragias;
- Infecção generalizada;
- Infertilidade;
- E até morte materna.
O crime por trás da promessa
A comercialização do misoprostol é crime contra a saúde pública.
O artigo 273 do Código Penal prevê pena de reclusão de 10 a 15 anos, além de multa, para quem vende medicamento sem registro ou procedência legal.
Mas não para por aí:
- Art. 282 – exercício ilegal da medicina;
- Art. 126 e 127 – indução, instigação ou auxílio ao aborto;
- Lei de Drogas (11.343/2006) – se houver caracterização de tráfico interestadual ou associação criminosa.
Em qualquer cenário, trata-se de crime grave. E as provas estão públicas.
Quem deveria investigar — e quem está fingindo que não viu
Essa rede de venda de abortivos não é discreta. Está no Facebook. Está nos prints. Está nos links.
E mesmo assim, ninguém age.
As autoridades responsáveis seriam:
- Polícia Civil, via Delegacias de Saúde ou Crimes Cibernéticos;
- Polícia Federal, em caso de tráfico via correios e atuação em múltiplos estados;
- Ministério Público, para instauração de inquéritos e denúncias;
- Anvisa, com competência para interdição de remédios e monitoramento de medicamentos controlados;
- Meta (Facebook/Instagram), que deveria remover imediatamente conteúdo que viola leis nacionais.
Nada foi feito até agora.
A estética da impunidade: prints, emojis e falsa segurança
Essas páginas não apenas vendem — elas glamourizam o procedimento.
Publicam mensagens como:
“Parabéns, vida nova!”
“Já deu tudo certo, agora é só descansar.”
“Deus te abençoe nessa nova fase.”
Divulgam imagens gráficas com títulos como “Mitos sobre o aborto cientificamente refutados”, com frases como:
- “O feto não sente dor.”
- “Abortar não causa depressão.”
- “Não há risco à fertilidade.”
É desinformação, camuflada de empatia.
A omissão institucional é parte do problema
Mas quando é uma mulher vendendo pílulas abortivas e orientando outras mulheres a abortarem sozinhas, o sistema se cala. A mídia ignora. E o Estado se omite.
O silêncio da imprensa — e o risco de denunciar
Nenhum grande portal de notícia cobriu.
Nenhuma reportagem investigativa foi feita.
Quem denuncia esse tipo de crime corre risco de processo, cancelamento, censura e perseguição.
A ideologia venceu a responsabilidade. E a narrativa superou o fato.
Isso não é acolhimento. É crime. É abandono institucional.
Mulheres estão sendo enganadas, exploradas e colocadas em risco por páginas que se vendem como “apoio emocional”.
Estão comprando medicamentos controlados de pessoas que nunca viram na vida.
Estão seguindo instruções de desconhecidas.
Estão passando por procedimentos traumáticos — e muitas vezes perigosos — sem assistência médica, sem segurança, sem acompanhamento profissional.
E tudo isso está acontecendo debaixo do nariz do Estado, da plataforma que hospeda e da sociedade que se cala.
Mulheres que cometem crimes, lucram com o desespero de outras e saem impunes.
Porque quando o crime é cometido por mulheres — e quando a vítima é um feto — ninguém quer saber.
É crime. É omissão. É escândalo.