Uma moça desconstrutivista social escreveu isto para as meninas da Manas & Manos:
“É isso o que a bolha liberal e conservadora faz vcs acreditarem. Que a mulher quer privilégios, que a idelologia que venceu nunca conquistou nada (foi a “evolução”). Que a gente não precisa vigiar direitos iguais muito recentemente conquistados. Que culturalmente na sociedade patriarcal e hétero normativa a mulher não vive numa posição de utilidade e serventia, pq toda mulher (ou homem) é livre. Vocês ignoram interseccionalidades, lutas. Infelizmente não somos iguais, e não nascemos iguais. Tratam como meritocracia e “escolha” problemas muito complexos! Pegam exemplos de mulheres baixas e golpistas e tomam pelo todo, desmerecendo uma coisa horrenda que é a violência contra a mulher, e debochando sobre feminicídio. Tem maluco misógino que usa vcs pra enfatizar discurso retrógrado. Cheguei aqui por Mari ser aproveitadora. Mas ao invés de desmascarar ela pela individualidade e caráter, botaram na conta do feminismo. Misturam mta coisa por falta de base teorica e confundem isso com esquerda e direita.”
Vamos responder.
É curioso como você fala que nós estamos dentro de uma bolha liberal e conservadora. Primeiro, parece que liberalismo e conservadorismo não são compatíveis no que se refere ao progressismo cultural, ou seja, à manipulação dos papéis de gênero, como se fossem inteiramente intercambiáveis.
Então, a moça tá com dificuldade em se situar em uma questão básica, ou seja, se somos liberais ou conservadores. Como botar fé em quem não conseguiu identificar o básico?
Liberal é você, que suporta acriticamente uma ideologia que oprime homens e mulheres pobres, perpetuando um sistema capitalista agressivo, que nos torna produtos e fomenta a mercantilização dos corpos de meninas e jovens mulheres pobres, além de tornar o trabalho dos garotos e homens cada vez mais desumanizado, pois não recebem nenhum suporte e são tratados como subhumanos, já que são potenciais agressores, certo?
Liberal é você, que sustenta a desestruturação das famílias, que leva os meninos e meninas do Brasil a aumentarem o risco de pobreza em 80%. Liberal é ela, que acha justo alienar as meninas das suas referências masculinas positivas, dizendo que ela tudo pode e que, se der problema, o Estado vai chegar… Mas nunca chega.
Liberal é você que apoia as agendas de Hollywood, de Grandes Corporações e de mulheres de elite, que querem nos fazer consumir cada vez mais, para preencher o nosso vazio existencial, provocado, em boa parte, pela derrocada do amor e a pressão sobre as famílias.
Liberal é você, que apoia uma ideologia, em que tem pessoas nelas, que usavam recursos públicos para entrevistar meninas exploradas, dentro do seu ambiente de exploração, fazendo perguntas irresponsáveis, que, de modo tendencioso, concluía que elas estavam muito bem em serem exploradas intimamente.
Liberal é você que desconsidera e minimiza as dificuldades sociais de meninos e homens, não se importando que eles estejam sendo empurrados cada vez mais para a pobreza.
Você não sabe do que você está falando.
Se o que você chama de ideias conservadoras é preservar as famílias e contestar a liberação íntima, que é responsável por parte significativa da nossa miséria emocional, exploração e violências íntimas e pobreza, então digo com orgulho que quero conservar isso, porque é impossível avançar sem preservar o que se ama.
Ninguém disse que “as mulheres querem privilégios”. Não generalizamos aqui. O que dizemos é que tanto homens quanto mulheres possuem traços sombrios, que podem se manifestar, por exemplo, com o clamor por privilégios em prejuízo da justiça, tal qual uma criança mimada, que quer tudo, sem aceitar abrir mão de nada.
Ninguém disse que não era necessário preservar direitos constitucionais, desde que aplicados de modo plural, justo e reconhecendo as demandas de ambos os gêneros. O que dissemos é que não apoiamos mania de grandeza e histeria, que se dá, por exemplo, quando se taxa todo homem como potencial abusador, o que é uma generalização cruel e mentirosa, propagada, sim, pelo desconstrutivismo social.
Nunca dissemos que uma mulher não pode ser explorada ou ser injustiçada, sendo colocada numa posição de “utilidade”. Ironicamente, foi a sua própria ideologia de empoderamento que colaborou para este processo de hiperobjetificação do corpo feminino.
A sua interseccionalidade é um verniz, que esconde os problemas reais de homens e mulheres. A sua interseccionalidade é chamariz para propagandas metacapitalistas. Como foi fácil apagar os problemas de justiça do mundo, certo? Bastou transformar homens comuns em vilões e eleger grandes corporações como protagonistas da inclusão, por meio de outdoores imbecis. A sua concepção de justiça interseccional é insuficiente e superficial, porque ignora os problemas enraizados de gênero, além de ser hipócrita, porque nunca fizeram interseccionalidade com os homens, apagaram os problemas deles como se fossem sujeira, que deveria ser varrida pra debaixo do tapete.
Exatamente, homens e mulheres não são iguais. Somos diferentes e cada um tem as suas demandas próprias. Se não querem reconhecer os problemas dos homens e suas demandas, entendendo a sua realidade como insignificante, então vivam sozinhas. Ninguém nunca disse que ia interferir nisso. Só estamos pensando, em paz, o nosso melhor modo de viver, porque não vamos nos envolver seriamente com quem só nos dá migalhas. Merecemos mais. Jamais nos comprometeremos por quem não nos ouve, não nos valida, não nos reconhece. Jamais nos comprometeremos por quem não nos merece.
Ah, será que eu li direito? Você está dizendo que as meninas estão sendo usadas por homens e não têm como formar a sua opinião própria? Desculpa, moça, mas isso é machista.
O final do seu discurso revela o quanto você não gosta de assumir responsabilidades. Lamentável. Nós colocamos o problema da Mari na culpa do desconstrutivismo social? E o que foram todas aquelas manifestações da ideologia de vocês em favor dela? Dizendo que a palavra da vítima bastava. Organizações da França apoiando ela, mesmo após a inocência sendo provada em segunda instância? O movimento apoiando mesmo após terem sido revelados todos os problemas graves daquele processo? Do que você está falando? Todo o movimento se uniu para protegê-la e continuou insistindo na culpa de uma pessoa, mesmo após a inocência dele ser provada. Twitters, injúrias, difamações, gritos pela inversão das regras do direito penal e do processo penal. As provas surgiram e o movimento continou apoiando. Isso é história e está em todos os lugares.
Vocês não vão conseguir apagar o passado. Já era. Vocês não querem assumir a culpa do que fizeram. Se agirem assim, vai parecer que a responsabilidade é a sua kriptonita na esfera pública.

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