Enquanto a Justiça investiga lavagem de R$ 250 milhões, a internet celebra Viviane Noronha como heroína do amor leal

No Brasil, a inversão de valores já virou norma — mas sempre dá pra piorar. A nova musa da internet não é uma médica que salvou vidas, nem uma professora que fez milagre em escola pública. É uma mulher investigada por lavar dinheiro do Comando Vermelho. E o nome dela é Viviane Noronha.

Sim, a mulher de MC Poze do Rodo. Influenciadora, fundadora da marca My Moment e — segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro — possivelmente envolvida em um esquema milionário de lavagem de dinheiro do tráfico. Estimam que, por meio das empresas em seu nome, tenham passado mais de R$ 250 milhões ligados à facção Comando Vermelho. Os fãs de Instagram de fofoca aplaudem sua postura combativa e “fiel”. Ela virou símbolo do “amor que resiste”, da mulher que “não abandona o seu”.

E quando o sistema erra, a gente critica. Mas quando a sociedade escolhe cegar-se diante do óbvio por conveniência ideológica, a crítica precisa ser mais dura.

Blindagem emocional: o truque mais velho da internet

No mesmo dia em que MC Poze do Rodo foi preso, Viviane publicou uma foto segurando um cartaz com a frase escrita à mão:

“Paz, Justiça, liberdade. Fora o racismo. #MCnãoébandido”

Pronto. Virou santa.

Ninguém quer saber do processo, da investigação, das movimentações suspeitas em sua marca de cosméticos. A narrativa está pronta: é racismo, é perseguição, é sistema opressor. E ela? Vítima. Leal. Fiel. Rainha.

E assim, a blindagem emocional substitui o inquérito policial.

Amor ou estratégia?

Viviane não é só a mulher que “não largou o osso”. Ela é o CPF ligado a empresas investigadas por esconder dinheiro sujo. A mulher que, segundo a polícia, pode ter sido usada — ou pode ter se oferecido — para dar verniz legal a milhões vindos de tráfico e armamento ilegal.

Mas nada disso importa. Porque ela colou o cartaz certo, fez o story certo e invocou as palavras-chave que transformam qualquer investigada em vítima política: “racismo”, “perseguição”, “injustiça”.

É o novo modelo de blindagem. E ele tem nome: Instagram.

A hipocrisia seletiva: quando a lealdade feminina vira virtude

A mulher que sustenta o lar com o marido trabalhador, que segura as pontas enquanto ele rala honestamente, é ridicularizada:
“burra”, “dependente”, “mulher que aceita pouco”.

Mas quando a mulher se mantém ao lado de suspeito, com vida de luxo, dinheiro supostamente sujo e envolvimento com facção, ela vira “forte”, “leal”, “parceira de verdade”.

Viviane é exaltada por não abandonar o parceiro. Por defender um homem preso. Por “estar do lado dele na hora mais difícil”.

Mas não é sobre amor. É sobre status.

A mulher que fica com o marido pobre, que trabalha de pedreiro, de motorista, de porteiro, que rala pra pagar o gás e comprar fralda, é chamada de “submissa”, “atrasada”, “dependente emocional”.

Mas a mulher que vive no luxo com dinheiro que pode estar sendo lavado por organização criminosa? Essa é exaltada. É empoderada. É inspiração.

A mesma lealdade vira símbolo de amor, empatia, feminilidade elevada. Mesmo que envolva lavagem de dinheiro, empresa de fachada e parceria com organização criminosa.

Fidelidade, hoje, não é mais virtude. É estratégia de engajamento — e precisa vir com Rolex, cartaz lacrador e sigilo bancário.

O crime virou lifestyle. E ela, capa de engajamento

Viviane não está em silêncio. Está em cena.

Cada postagem, cada declaração, cada story é roteirizado como uma minissérie de redenção. Enquanto a investigação corre, ela joga com a opinião pública — e está ganhando.

Não importa o mérito do processo. O foco agora é a narrativa.
E o sistema que tanto criticamos por proteger bandidos, neste caso, serve como palco para o espetáculo da vaidade.

Ser mulher de bandido nunca foi tão sexy

Não é a primeira vez que a cultura pop abraça esse delírio.
Já vimos serial killer recebendo cartas de amor na cadeia, já vimos feminista defendendo mãe que matou o próprio filho, já vimos bandida sendo chamada de empoderada.

A diferença é que agora, a estratégia está mais sofisticada. É cartaz com frase politizada. É marca registrada. É post viral. É lavagem de imagem tão bem feita quanto a suspeita de lavagem de dinheiro.

Viviane pode até ser inocente — isso quem decide é a Justiça. Mas uma coisa já está clara: a internet não quer saber.

Ela já decidiu: ela é a vítima. E se você discordar, é machista.

 

Uma resposta

  1. Esse texto é exatamente o meu ponto de vista sobre essa palhaçada aí que estão endeusando essa garota, mais uma que acha que fazer parte disso há levará adiante! Lastimável.

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