O Deserto Feminista

Manas, acabo de cometer um sacrilégio. Estou me dirigindo a mulheres, mas eu sou um homem. Isso está fora da lei.

Na nossa distopia, apenas manas se dirigem a outras manas. É difícil de explicar. As coisas simplesmente saíram do controle.

Ok, estou escrevendo essa mensagem sem elas saberem. Se elas souberem, podem me deixar morrer. Ou algo pior: podem me forçar a casar com elas. Nós temos horror de sermos maridos nos tempos atuais.

Elas não matam. Mandam para o deserto. Entendem que matar é algo masculino. Existe uma passagem estreita, no Anexo 2, da Cidade Sem Nome. É lá que desaparecemos. Acabamos de descobrir.

Damian conseguiu nos avisar. Ainda não sabemos como, mas, hoje de manhã, um papiro chegou até mim.

Ele escreveu: “O final da passagem estreita dá em um deserto sem fim. Escreva um diário para elas. As outras existem. Eu só preciso que você escreva, Lucien. Conte tudo.”

Um deserto?! Resultado das mudanças climáticas? Não sabemos. Desconfiamos que existe uma mídia para homens e outra para mulheres. Não confiamos na nossa.

Decidi arriscar. Receio que alguma delas me escolha. Talvez eu não tenha mais nada a perder.

Não somos iguais. Essa é a realidade. Nós sempre fomos diferentes. Elas sempre souberam. Mas, pra fazer o que fizeram, tinham que convencer todos do contrário.

Tinham que convencer todos a apoiar a matemática da igualdade. Então, o mundo foi perdendo a graça. Tudo foi ficando cada vez mais lógico.

Nós conseguimos enganar o algorítmo e postar alguns vídeos. Não sei por quanto tempo ficarão no ar.

Manas, eu estou arriscando a minha vida. Se elas descobrirem, eu vou ter que encarar aquele deserto maldito.

Escreverei de novo. Em breve. Assim que eu estiver seguro.

Por enquanto, vocês precisam assistir este vídeo!