Uma criança de olhos claros. Uma religião que exige sangue. E um silêncio covarde disfarçado de respeito.

O desaparecimento que abalou o país
Joshlin Smith tinha seis anos quando desapareceu em 19 de fevereiro de 2024. Pequena, de olhos verdes e sorriso tímido, sumiu de casa na comunidade de Middelpos, em Saldanha Bay, na África do Sul. O caso comoveu o país e foi comparado por especialistas ao de Madeleine McCann. Mas com uma diferença brutal: a principal acusada era a mãe. E o motivo seria um ritual.
A mãe que vendeu a filha — e o destino seria um ritual
Racquel “Kelly” Smith, mãe de Joshlin, foi sentenciada à prisão perpétua junto com seu namorado e um cúmplice. Durante o julgamento, testemunhas afirmaram que Joshlin havia sido vendida a um sangoma — um curandeiro tradicional — que estaria interessado na menina por causa dos seus olhos e pele claros, características consideradas valiosas em certos rituais.A promotoria sustentou que a criança foi traficada e entregue a um comprador com a intenção de exploração, escravidão ou práticas similares. Embora o suposto curandeiro nunca tenha sido identificado, o relato do ritual foi corroborado por mais de uma testemunha e aceito como plausível no processo. O nome disso é tráfico humano. E quando envolve feitiço, sangue e a venda de uma criança, não há cultura ou tradição que justifique. É barbárie — e foi reconhecida como tal pela Justiça.
Um plano antigo, não um impulso
A venda não foi um impulso. O caso mostrou que Kelly já falava em vender os próprios filhos desde 2023. Um pastor local testemunhou que ela mencionava valores em torno de R$ 5.500 por criança. Uma vizinha, Lourentia Lompaard, contou ao tribunal que Kelly havia dito que tinha “feito algo bobo” e confirmado que a filha tinha sido vendida a um curandeiro. O valor, os detalhes e a frieza desmontaram qualquer tentativa de relativização. Joshlin foi negociada.
Muti: quando cultura exige sangue
A prática à qual Joshlin foi submetida é conhecida como muti — um tipo de ritual presente em algumas culturas do sul da África. Em sua versão clandestina e ilegal, envolve sacrifício humano infantil. Partes do corpo, como olhos e pele, são usadas como “ingredientes” místicos para feitiços de poder, fertilidade ou riqueza. Joshlin foi tratada como se fosse um amuleto. Isso não foi fé. Não foi tradição. Foi um assassinato ritual disfarçado de ancestralidade.
O destino ainda é incerto
Durante o julgamento, uma professora relatou ter ouvido Kelly dizer que a filha estava “em um contêiner, num navio rumo à África Ocidental”. O corpo de Joshlin nunca foi encontrado. O comissário de polícia declarou: “Não vamos descansar até sabermos o que aconteceu.” A NPA confirmou que ela foi vendida e entregue com finalidade de exploração ou escravidão. Até hoje, não se sabe onde está Joshlin — nem se está viva.
Uma vida de abandono

Joshlin nasceu em outubro de 2017. Era filha de Kelly e do ex-parceiro Jose Emke, que desabou no tribunal e teve que ser retirado durante a audiência. Assistentes sociais revelaram um histórico de abandono, violência e vício. Kelly usava drogas desde os 15 anos. Foi expulsa de casa pela mãe após ameaçar esfaquear o próprio filho. Demorou cinco meses para registrar o nascimento de Joshlin e vivia entre abrigos e ruas. Uma amiga da família, Natasha Andrews, tentou adotar a menina, mas o processo foi bloqueado. Ainda assim, Joshlin passava férias e fins de semana com os Andrews. Foi em um desses momentos que gravaram o vídeo exibido no tribunal: Joshlin sorrindo. Viva. Antes de sumir.
A dor que rasgou o tribunal
A exibição do vídeo de Joshlin rindo levou o tribunal às lágrimas. A intérprete oficial não conseguiu concluir a tradução dos depoimentos. A avó, Amanda Smith-Daniels, hoje responsável pelo irmão da vítima, declarou:
“Como você consegue viver consigo mesma?”
A professora da menina contou que todos os dias os colegas perguntam por ela. A música favorita de Joshlin, “God Will Work It Out”, passou a ser ouvida diariamente na escola. A filha de 14 anos da família Andrews leu um poema dizendo:
“Você é nossa flor. Nossa menina de olhos verdes.
Só queremos te abraçar de novo.”
O silêncio seletivo
O caso repercutiu nacionalmente. Redes sociais explodiram. Políticos se manifestaram. Mas fora dali? Nada. Nenhuma nota da ONU. Nenhuma condenação oficial às práticas ritualísticas. Nenhuma organização de direitos humanos denunciou a violência religiosa envolvida. O crime foi tratado como exceção. Como cultura. Como tabu intocável. Porque mexer com o que é “ancestral” exige coragem — e o sistema prefere o conforto da omissão.
A verdade que precisa ser dita
Joshlin foi oferecida. Joshlin foi vendida. Joshlin foi esquecida por todos os que juram proteger os vulneráveis. Tudo porque sua morte expôs o pior lado das verdades que ninguém quer encarar. Denunciar esse tipo de crime não é intolerância. É obrigação moral. Respeitar uma fé que exige os olhos de uma criança não é diversidade — é cumplicidade.
“Eu li o final do Livro” da capa preta: “Babilônia vai cair” e vai pagar por todos os inocentes. O Leão da Tribo de Judá virá! Enxugará todas as lágrimas.. (Tá lá em Apocalipse)