Ela dopava homens, roubava seus pertences — e confessou em vídeo. A cultura reagiu com barulho, mas não com justiça.
Em 2019, ressurgiu nas redes um vídeo de Cardi B, uma das rappers mais premiadas da música atual. Na gravação, feita anos antes em uma live do Instagram, ela diz:
“Eu os drogava e roubava. É o que costumava fazer.”
Cardi B trabalhou como stripper em clubes de Nova York, incluindo o Bronx e Manhattan. Portanto, os crimes que ela confessou publicamente ter cometido ocorreram no Estado de Nova York — e é à legislação penal nova-iorquina que ela estaria sujeita.
Dopar alguém com substância controlada, com intenção de roubar, é crime grave segundo o Código Penal de Nova York:
Base legal (Estado de Nova York):
- Assault in the Second Degree – Penal Law § 120.05(5): administrar substância com intenção de cometer crime → até 7 anos de prisão (Classe D felony)
- Robbery in the Second Degree – Penal Law § 160.10: roubo com lesão ou em grupo → até 15 anos de prisão(Classe C felony)
- Robbery in the First Degree – Penal Law § 160.15: roubo com lesão grave → até 25 anos de prisão (Classe B felony)
Cardi confessou condutas compatíveis com assalto em segundo grau e roubo qualificado. Em vídeo. Com naturalidade. Sem remorso.
E o que aconteceu com ela?
Nada.
A reação foi barulhenta — mas inconsequente.
Sim, houve indignação nas redes. Surgiu até a hashtag #SurvivingCardiB, em referência ao documentário que denunciou R. Kelly. Comentários, críticas, revolta temporária. Mas não passou disso.
Nenhuma investigação.
Nenhum boletim de ocorrência.
Nenhum processo ou pedido de retratação.
Por quê?
Provavelmente porque nenhuma vítima quis aparecer.
Porque é vergonhoso para um homem dizer que foi dopado e roubado por uma mulher — especialmente em um mundo onde isso é tratado como piada ou fraqueza.
Quando a criminosa é mulher, tudo vira contexto.
Após o vídeo viralizar, Cardi tentou controlar o estrago com uma justificativa no Instagram:
“Houve coisas que tive que fazer no meu passado, boas e ruins, que senti que devia fazer para sobreviver.”
“Fui abençoada de ter podido sair disso, mas muitas mulheres não.”
“Os homens sobre os que falei eram homens com os quais saí, com os quais estive envolvida, homens que eram conscientes e estavam dispostos.”
Mas o que ela não disse é que eles estavam dispostos a fazer programa com ela — não a serem drogados e roubados. Consentimento sexual não é consentimento para subtração de bens sob efeito de substância. É uma diferença brutal — e deliberadamente apagada por quem quis suavizar o crime.
Ela ainda afirmou:
“Há rappers que exaltam a violência, as drogas e ou roubos.”
“Nunca glorificaria as coisas com as quais cresci, nunca pus essas coisas em minha música porque não estou orgulhosa disso.”
“Tudo que posso fazer é ser melhor para mim, minha família e meu futuro.”
Mas falar sobre crime nunca foi o mesmo que confessar crimes reais e praticados. Cardi não fez letra fictícia — ela fez relato pessoal.
E assim, um crime grave foi transformado em narrativa de superação.
Como se dopar alguém fosse só uma etapa difícil.
Como se o sofrimento deles não fosse digno de justiça.
Se fosse um homem dizendo que dopava mulheres para roubá-las…
…esse homem estaria na cadeia. Teria sua carreira destruída.
Viraria manchete. Viraria documentário. Viraria monstro.
Mas como foi Cardi B — mulher, negra, feminista e popular — tudo foi esquecido sem sequer ser investigado.
Justiça seletiva é só vingança com filtro progressista.
A história de Cardi B não é exceção. É o retrato de uma cultura onde o gênero da autora importa mais que a gravidade do ato.
Ela confessou crimes. E ninguém fez nada.
E o silêncio ao redor disso revela tudo o que você precisa saber sobre o feminismo.