Erin Pizzey
Imagem: Hulton-Deutsch Collection / Corbis / Getty
Pioneira no combate à violência domestica na Grã-Bretanha, Erin Patria Margaret Pizzey, feminista da segunda onda, fundou em 1971, sem apoio e sem dinheiro, o primeiro refúgio feminino do país. O projeto tinha o foco de quebrar o ciclo de violência, removendo vítimas de violência doméstica de seus agressores. Em poucas semanas, 18 mulheres e 46 crianças estavam morando no abrigo, dormindo dos pés à cabeça em colchões compartilhados. Com a super-lotação Pizzey foi pedir ajuda, mas todos os bairros em que ela pediu ajuda recusaram, então o grupo começou a ocupar qualquer casa abandonada.
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Com a convivência diária com as vitimas abrigadas, Pizzey começou a perceber que mulheres poderiam ser tão ou mais violentas que os homens e fazendo questionários dentro do refúgio, ela descobriu que 62% das mulheres que se encontravam em ambiente de violência doméstica eram propensas a violência, o que ela classificou como violência doméstica recíproca. Além disso, ela percebeu que a violência doméstica era algo que passava de geração em geração, pessoas que vinham de lares violentos, tinham mais propensão em serem violentas.

 

Pizzey deixou a instituição de caridade no início dos anos 80 depois de perceber que o feminismo era “anti-homem” que força as mulheres a assumirem o papel de vítimas da sociedade. Nascida na China no início da Segunda Guerra Mundial, filha de um diplomata e alcoólatra. Passou pelo Irã, África do Sul e Senegal, com sua família. Sobre seus pais, Pizzey diz que sua mãe era a que mais a abusava fisicamente, batia nela até que o sangue escorresse por suas pernas. Era cruel e manipuladora, com uma língua farpada.

 

Quando “as feministas começaram a demonizar todos os pais”, as memórias de ambos os pais “me lembraram da verdade – a violência doméstica não é uma questão de gênero. Sua posição agora sobre o abuso doméstico é que a violência é uma questão familiar, geralmente intergeracional, e homens e mulheres são igualmente capazes e culpados por ela.

 

“Nunca fui feminista porque, tendo vivido a violência da minha mãe, sempre soube que as mulheres podem ser tão cruéis e irresponsáveis ​​quanto os homens”

Pizzey começou a perceber dois problemas, um ela passou a chamar de “mulheres genuínas agredidas”. O outro problema passou chamar de “mulheres com tendência à violência”. A diferença entre os dois tipos de pessoas pode ser afirmada de forma bastante simples:

  • Uma pessoa agredida é a vítima inocente e relutante da violência de seu parceiro;
  • Uma pessoa propensa à violência é a vítima relutante de sua própria violência.
Ela começou a revelar publicamente o que havia se tornado aparente para ela, mas para sua surpresa, ninguém queria realmente saber porque pessoas violentas tratam umas às outras da maneira que o fazem. Segundo ela “as feministas […] são cautelosas em não divulgar qualquer informação que possa desviar a simpatia e os fundos públicos e governamentais de sua ‘causa’.” Ela foi perseguida por feministas que acreditavam que homens eram a perpetração do mal na terra e todas as mulheres são inocentes, ao ponto que o esquadrão anti-bombas exigiu que toda sua correspondência fosse processada por eles antes que ela recebesse.
Para ela o ponto nunca foi culpar os sexos, ou competir para saber quem mais sofre. O ponto é descobrir o que tem por trás da violência para que ambos os sexos combatam em harmonia esse problema. Entretanto, apesar de ter criado um modelo de combate a violência domestica de sucesso, que agora é a maior instituição de caridade desse tipo na Inglaterra e em 2017 teve uma receita anual de 13,3 milhões de euros e empregava mais de 200 pessoas, o seu nome não figura mais como uma das fundadoras do “Refuge”.
Fonte: BBC

5 respostas

  1. Muito obrigado pelo ótimo texto, Dámaris. A propósito, eu te procurei na lista de autores do site e não te encontrei. Quero ler mais textos seus.
    Temos que divulgar esse site, ele é muito bom.

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