No ultimo dia 24 explodiu na internet o caso da professora Anamaria Milazzo, de 22 anos, que foi presa em Nova York após a polícia descobrir que ela enviou fotos peladas para um menino de 14 anos. Segundo as investigações, os envios aconteceram por meses. O caso foi descoberto por um policial escolar em Elmira, que recebeu uma denúncia no dia 9 de junho. Anamaria foi indiciada por disseminação de material indecente a menor e por colocar em risco o bem-estar da criança. Ela foi liberada com um mandado de comparecimento, conforme permite a lei penal de Nova York para certos tipos de crime.

Ela foi demitida da instituição escolar local, mas a escola preferiu não divulgar se a vítima era aluno dela ou apenas integrante da rede pública.

O crime existe, o abuso é claro. Mas nas redes sociais, a reação foi outra: enxurrada de piadas, relativizações e uma avalanche de comentários que transformam uma criminosa em piada sexual, prêmio de sorteio e fantasia coletiva. Um usuário chegou a escrever que o único crime real que ela cometeu foi “violar as regras da escola”. Outro comentou: “E existe assédio com homem? Que risco ele tá correndo, se apaixonar?”. E o mais clássico de todos: “Devia ter sido eu”.. Um usuário chegou a escrever que o único crime real que ela cometeu foi “violar as regras da escola”. Outro comentou: “E existe assédio com homem? Que risco ele tá correndo, se apaixonar?”. E o mais clássico de todos: “Devia ter sido eu”.

Agora, imagine se fosse o contrário: um professor de 22 anos, mandando fotos nuas para uma aluna de 14. A masculinidade é tão desvalorizada, tão tratada como descartável, que até o corpo de um menino de 14 anos vira piada pública quando violado. E isso não é novo: o abuso sexual de meninos é sistematicamente apagado, ignorado ou transformado em “fantasia” — desde que a agressora seja uma mulher.

Esse caso escancara o duplo padrão nojento que impera na cultura e no sistema. Quando o abusador é homem, a palavra da vítima vira evangelho. Quando a abusadora é mulher, a vítima vira sortudo.

Esse tipo de discurso, além de criminoso, reforça a impunidade e naturaliza a pedofilia feminina — um tabu que ninguém quer tocar, mas que destrói vidas em silêncio. A romantização do abuso contra meninos não é só desonesta: é cúmplice. E quem compartilha esse tipo de conteúdo, ainda que em tom de brincadeira, ajuda a enterrar a dor e o direito das verdadeiras vítimas.

A justiça americana, ao menos nesse caso, fez sua parte. Já a cultura doentia que permeia as redes sociais segue devendo — e muito. Porque enquanto for aceitável rir de um menino sendo assediado, nenhum menino vai se sentir seguro pra dizer: “isso me feriu”.

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